segunda-feira, novembro 09, 2015

Dor de não doer

Dor insuportável de não doer. Dor seca, cinza, com areia e osso.  
Dura de tempo, de palavra e lágrima, escoando no abismo.
Antes um penhasco, atritando pele e pedra numa ferida longa.
Abismo é cair há-penas.
Cair no vazio de um vento bruto que não fere, mas que suga a alma e o sangue, cortando o corte.
Dor adiada, moída, esmiuçada, triturada. Pó de átomo que ninguém enxerga. E essa vida durando dura, empalhada em flagrantes de espasmos, em que coisas e gentes sobram miúdas e pálidas.
Olhar às voltas, onde tudo é claro e escuro demais. Lá no centro-vão. E eu apenas curta. Curta, leve e pequena demais pra qualquer confronto ou colisão.
Queda.
Queda de quedar quereres. E uma dor ausente, que quase esfria, quase queima, quase entontece, quase fraqueja, quase mata.
Vida sobrevida, esse engodo de força, esse lapso de existência, essa saúde enferma.

sexta-feira, setembro 05, 2014

Jazi

Quero é palavra-surdo,
palavra grossa,
desprecisa. 

Erice o pelo em falo
Estique o nó dessa garganta
Rasgue à dente a epiderme
Arranque a dor da despalavra!

Viver-se assim é pó
Eco sem voz,
uma queda que não cai.

(Real)

Me leve o peso
desse oco.
Espanta em luz
esse breu meu!

(Uma faísca me bastava...)

Fogo eterno
é o paraíso
e não inferno.

Inferno é o inverno
de gelo lápide.

Não, não há pior
Não ter palavra,
pra palavra.

Não há pior
que precisar.

Eu precisei.
E jazi.

(a)prece

Sabe por quê? Não me abdico do mundo.
Já larguei Deus e com isso o ganhei. Parti em busca por santidade de gente. Aquela que ele rogou por nós.

Quero sentar à esquerda do trono, donde há de vir o louvor ao profano.
Um brotar de humanos-deuses que dançam bebendo, chorando, sorrindo, comendo e rezando.
Ah, vá! Um ermitão de vestes brancas numa caverna de mármore?
E o mundo todo entrando e saindo por seus buracos.
Não queiram.
É aqui, onde estamos!
Fazendo-nos falta para o desejo existir.
...E alma, esse tudo que cintila no olhar da gente quando há.
Pode-se, até, no ali perto das esquinas, nos termos com o espanto das sublimes humanidades...
Jorrando de inesperadas santas-gentes, essas que não se doiram, por se haver com suas cascas.
Não se reúnam.
Não se creiam.
Não há templos.
Não há ouvidos para onde suas vozes pretendem.
Está aqui, no entre si,
onde há, um único mandamento:
- “Maculem suas aspirações virtuosas.”
...E se façam verbo. E carne.
Os únicos princípios,
desde o início.
.........................................................
JAB. Onze-do-seis.

sexta-feira, agosto 30, 2013

Quero o sossego da desistência
De não esperar nada
De me largar num canto
E estar à parte

Desistir de melhorar o mundo
De pintar o cabelo
De pinçar os pelos
De ouvir música
De ouvir

Desistir de falar
De falhar
E de dar bom dia com sorriso bobo

É um sossego quase morte
Quase, porque morrer é trabalho
Trabalho de parto ao contrário
Mais doído
De voltar para o outro lado de lá do nada

Melhor é desistir
Empalidecer a cara
Esfriar o sangue
Ir esquecendo aos poucos as letras
E os sons das palavras

Estancar o ponto
Como cartada na manga
Pra quando o último sôfrego
Te tocar os ossos
Pintar de vermelho
O sorriso final.
 .

quarta-feira, agosto 14, 2013

O dia em que eu teria me matado

Dia sem noite
Um dia aceso com luzes duras
Farol alto de pensamentos
Cega na pista oposta
Torpor de vermelho sangue

As letras se vão por entre os olhos cegos
E um coração cinza
Espera o dia estando no dia
Fora da ilusão de pensar que se acaba e se começa
O corpo é bobo e balança
E nada é tão feio
E nem tão belo

A rua rabiscada é caminho
O céu de doer, que pena, sempre azul e longe
Palavras se lançam sobre um equilíbrio tênue
Pra que tantas?
Bastava o sopro do primeiro som
A rasgar de novo as emendas frágeis de papéis velhos e podres

A dor vem de todos os sentidos
Atravessa uma alma desejosa de orfandade
Existência poluída com gentes, fluidos e esgotos.
Os sorrisos banais dos felizes tolos
Consomem como ácido os poros dos ossos últimos.

Belo dia de pergunta amanhecida há tanto
Pra quê?

Tudo branco ao lado
Senta no fosso e chora
Seria a última dignidade possível
Mas há um metal
Ainda mais frio
Encorajando o ato

Ultimato.

Dia em que eu teria, se já não tivesse.
Dia que seria o último
Se já não o fosse
Há tanto tempo
Desde o primeiro.
Tenho andado gelada. Os sentires endureceram dentro e fora de mim. Tenho temido minha obviedade Lastimado minha literalidade. Quadrados jorram aos cubos. Geometria trincada, obtusa minha hipotenusa. Gelo. Geometria. Gelada. Tempo de acabar antes, De não terminar sempre. Conservar a morte viva, pra não esquecer que se morre. É que o gelo conserva a vida na morte. Eu que sempre gostei do frio, acabei virando neve. ...essa presença fugaz.

Cada vez

Cada vez mais triste por perder o laço O abraço O passo. De saber que é só o só Que a volta é pó E durante é nó. Os enlaces vazios Desdão existires E a vida é cã, Que não ladra E não morde. Corrói ossos esburacados Fósseis sem valor daquele agora no aqui-depois. Cada vez mais, o Ó.

sábado, setembro 15, 2012

‎"E aí, me dei de saber como pode ser tanta coisa em tão pouca gente. Gente de um só humano, com um só corpo pequeno. Só podia ser a alma, aquela que voa enquanto a gente pouca, se faz tanto. Será que estou sofrendo de alma voando? Alma sem porto de parada? Cansada? Sim, porque alma de humano precisa de cais, precisa de respiro vindo pra dentro e ar saindo pra fora. Pára ali, alminha! Toma uma chazinho e deita, respira dentro do corpo, um pouquinho, que é pra você amanhecer com asa firme e pena vistosa. Alimenta o seu vôo nas vísceras do teu pequeno, porque ele tem história pra te contar. Voa com sossego de quem sabe que vai pousar. Não tem asa nesse mundo, que não canse e que não precise dobrar sobre a curva concreta de um corpo pequeno. Tudo que voa, precisa de chão pra se lançar... Sossega, tenha medo não, você não vai sofrer de rastejo. Destino de alma é voar..."
Ir. Amanhã de novo é dia de ser igual ontem.Volta.
Você me inunda com uma pretensa vida que um dia eu não sei se irá, virá, será.... Mas, se alguma vez ousei aceitar a minha falta e me derramei, caí aí onde eu e você não estamos,posto que somos. Noite, dia, espinho, flor e, às vezes, um sorriso inteiro. Mesmo que meio.

quinta-feira, agosto 02, 2012

"Sem nada pra fazer, foi brincar de ser deus e ver a vida de longe. Esse TAL sabe se divertir! As pessoas passam em busca de... e não há nada para encontrar! No final, rindo juntos da maçada, foram interrompidos por aquela que teve a coragem de ser simples. Foi a única salva no meio da humanidade. E então, tomando seu lugar, subiu aos céus e está agora sentada-à-direita-de-deus-pai-todo-poderoso, vendo o mundo procurar a vida no palheiro e morrendo de rir dos cara pálidas. Quem ri por último, ri melhor e por toda a eternidade!"

sexta-feira, março 23, 2012

A vida é assim, de enganar que existe perene.
E eu que, ultimamente, não tô pra brincadeira,
Dei de ver que é séria e sisuda.
Que é finda,
Assim como as Cinco Marias que ergo no ar,
acabadas no fim de brincar.
A mão cheia
O chão vazio
torno a jogar.

O que disputo é o tempo,
que quanto mais passa,
mais rápido encerra o meu riso
e a minha vida.
Com quem parei de jogar
Por saber que é jogo perdido.
.....

Solte as pedras no chão
Comece de novo
E esqueça que não tem sentido.
Finja que brinca e vence
O que, no fim, sei que vou perder:
o jogo, o sorriso e a vida.