quarta-feira, agosto 14, 2013

O dia em que eu teria me matado

Dia sem noite
Um dia aceso com luzes duras
Farol alto de pensamentos
Cega na pista oposta
Torpor de vermelho sangue

As letras se vão por entre os olhos cegos
E um coração cinza
Espera o dia estando no dia
Fora da ilusão de pensar que se acaba e se começa
O corpo é bobo e balança
E nada é tão feio
E nem tão belo

A rua rabiscada é caminho
O céu de doer, que pena, sempre azul e longe
Palavras se lançam sobre um equilíbrio tênue
Pra que tantas?
Bastava o sopro do primeiro som
A rasgar de novo as emendas frágeis de papéis velhos e podres

A dor vem de todos os sentidos
Atravessa uma alma desejosa de orfandade
Existência poluída com gentes, fluidos e esgotos.
Os sorrisos banais dos felizes tolos
Consomem como ácido os poros dos ossos últimos.

Belo dia de pergunta amanhecida há tanto
Pra quê?

Tudo branco ao lado
Senta no fosso e chora
Seria a última dignidade possível
Mas há um metal
Ainda mais frio
Encorajando o ato

Ultimato.

Dia em que eu teria, se já não tivesse.
Dia que seria o último
Se já não o fosse
Há tanto tempo
Desde o primeiro.

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