segunda-feira, novembro 09, 2015

Dor de não doer

Dor insuportável de não doer. Dor seca, cinza, com areia e osso.  
Dura de tempo, de palavra e lágrima, escoando no abismo.
Antes um penhasco, atritando pele e pedra numa ferida longa.
Abismo é cair há-penas.
Cair no vazio de um vento bruto que não fere, mas que suga a alma e o sangue, cortando o corte.
Dor adiada, moída, esmiuçada, triturada. Pó de átomo que ninguém enxerga. E essa vida durando dura, empalhada em flagrantes de espasmos, em que coisas e gentes sobram miúdas e pálidas.
Olhar às voltas, onde tudo é claro e escuro demais. Lá no centro-vão. E eu apenas curta. Curta, leve e pequena demais pra qualquer confronto ou colisão.
Queda.
Queda de quedar quereres. E uma dor ausente, que quase esfria, quase queima, quase entontece, quase fraqueja, quase mata.
Vida sobrevida, esse engodo de força, esse lapso de existência, essa saúde enferma.