quarta-feira, junho 02, 2010

...a meios olhos

Eu assim, com esses meios olhos...
Dorso de definições tantas
alheias...
de correntes que me curvam o pescoço;
dos tratados que me fizeram os anos,
de tanto mencionarem a mim,
de tanto cuidarem de mim,
sem me olharem as vistas.

Eu assim, com essa vasta posta
dei-me ciência,
de livros que escrevem de mim.
Todos eles,
me dizem respeito,
me definem,
me encaixotam,
e enxotam.

E eu?
que sei eu de mim?
que me permitem dizer de mim?
Só pouca palavra pobre
que ouso,
(em vão) dizer.
dão-me resposta em bocejo,
mas não um qualquer,
um do todo do ser.

Olhas, mas não me vê.
Estudas-me, mas não me ousa saber,
Vomita-te inteiro em mim,
com palavras de segunda mão.
...

E após o gozo,
toma o cetro e se vai,
incólume e certo.

...me deixas lá...
absorta em correntes,
presa na imensidão de mim,
que você nem sabe qual.

Vá,
inconsciência do saber de mim.
Me prega ao mundo,
que eu derrocarei verdades.
...assim mesmo,
com meios olhos
e viver divago.